CADERNO DE AUTÓGRAFOS

caderno de autógrafos
Antigo Caderno De Autógrafos Em Madeira Machetada De 1945

 

Eu estava saindo do Cinema Central em Juiz de Fora, quando vi um rapaz de mais ou menos dezesseis anos pedindo autógrafo para os músicos da banda do cantor Ney Matogrosso, que acabara de fazer seu maravilhoso show. O menino conversava com os músicos anônimos e seus olhos brilhavam quando ele recebia o autógrafo. Não foram tantos, talvez três no máximo e ele se foi feliz. Talvez nem mesmo dormisse com o seu caderno de autógrafos sob o travesseiro.

Eu fiquei imaginando e revendo fatos e adorei ver a cara do rapazinho. Era um menino ainda virgem para as vicissitudes da vida, ainda cheio de ilusão.

E é sobre essa ilusão que eu me atenho e gostaria de falar. Que bom que ainda existem pessoas que têm ilusão na vida e têm com o que sonhar. Seria bom se todos nós conseguíssemos manter essa ilusão, esses sonhos por muito tempo em nossas vidas. A gente vai passando pelos anos, talvez a vida vá passando por nos e nós não percebemos que nas intempéries todas a que sobrevivemos, somente morrem os sonhos; quiçá exista ainda alguma ilusão.

Quando perdemos de vez todos os nossos sonhos e ilusões, quando não há mais nada que a pura e cruel realidade a nos acompanhar, acredito que morremos e passamos a esperar apenas que nossos dias terminem quando chegar a hora. Não há vida se não há sonhos e não há sonhos se não temos um mínimo de ilusão de que tudo pode ser bom. Não é nada bom se não fantasiamos um pouco e a realidade nunca é agradável.

Eu gostaria de voltar a ver esse menino da porta do Central. Conversar com ele, ver seu caderninho de autógrafos, incentivá-lo a cultivar essa ilusão e esse sonho de adolescente e não deixar que a vida o faça cada dia mais velho e cada vez mais soturno. Gostaria de poder dizer a ele que um dia, há muito tempo atrás, eu corri como um louco no meio da chuva para conseguir um autógrafo do Ivan Lins e o conservo até hoje. Foi o único! Não houve mais oportunidades? Não houve mais ilusões! Não há mais sonhos!

Espero mesmo que meu amigo desconhecido da porta do Cinema Central consiga manter seus sonhos e seu caderno de autógrafos por toda sua vida.

Lafaiete em Prosa e Verso, 2001;(VII):30-1.

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